Este texto é para você que se sente culpada por não ser uma mãe perfeita

 

Sentimento de culpa materna é vivenciado por todas as mulheres, mas especialistas afirmam que é possível superar

Este texto é um misto de desabafo e alerta para quem se sente culpada por não ser uma mãe perfeita. Definitivamente eu não sou uma mãe perfeita.

Em primeiro lugar ninguém é perfeito, porque isto não é matéria para nós, simples humanos e mortais. Isto posto, a maternidade não tem manual. Recebemos aquela criança enroladinha na manta, meio assustadas na maternidade, ainda incrédulas em que aquela criaturinha fofa e indefesa saiu de dentro de nós. Esse momento definitivamente é o mais mágico da maternidade.

Porém os meses passam, acordamos a noite toda para amamentar, trocar fralda, colocar para arrotar, e aí aquele bebezinho cresce, fazendo aniversários em festas coloridas e animadas que preparamos para ele, vai para a escola e comparecemos a todas aquelas intermináveis festinhas em que tiramos centenas de fotos de nosso rebento cantando, dançando ou aprontando alguma… rs.

Levamos sustos, pois eles caem, quebram braço, cortam a testa, levam pontos e nos deixam malucas nas férias, porque querem – e até merecem – se divertir, mesmo que os pais estejam trabalhando.

A adolescência

Chega a adolescência, vêm as viagens com amigos, os passeios e as mudanças físicas; querem independência e já acham que sabem de tudo. E um belo dia, você escuta daquele mesmo bebezinho indefeso que um dia você segurou no colo assustada, no meio de uma discussão, em que você deixa escapar um palavrão, que você precisa cuidar do seu palavreado, porque ele não gosta de palavrões.

Ora bolas! Foi você quem passou anos educando-o e ensinando-lhe a não falar palavrão, a respeitar os mais velhos, etc. e tal. E, de repente, aquele bebê crescido se acha no direito de chamar sua atenção, como ele mesmo disse, não para magoá-la, mas para que você se corrija. Exatamente como você mesma sempre falou/fez com ele. E você acaba recebendo, inesperadamente e surpreendentemente, mais do próprio remédio. Será que o feitiço virou contra o feiticeiro?

Ele não tem ideia de que essa atitude dele desencadeia uma culpa absurda em você que não cabe no peito. Como você foi deixar escapar aquele palavrão? Você tenta argumentar que ele não deve criticar a própria mãe, que é bem mais velha que ele, ao que ele responde que já ouviu você discutindo com a própria mãe, a avó dele. Neste momento, o melhor a fazer é se dar por vencida e postergar o fim dessa conversa. De repente, a quase cinquentona não se sente apta para terminar a conversa com o adolescente.


Preciso pensar, pesquisar, para poder encontrar argumentos sólidos e não me sentir tão acuada e com culpa, para não ter vontade de chorar. Eu me sinto quase filha daquele adolescente mais alto do que eu, que quer me dar lição de moral e atrasar a sua hora de dormir. Com quem reclamar? Mãe nunca tem com quem reclamar ou se aconselhar, visto que cada família é única. A gente se sente sozinha e única. E isso confunde muito e dói, às vezes.

Daí resolvi desabafar e compartilhar esse fato com a certeza de que assim posso alertar outras mães, afinal muitas devem estar passando por situações semelhantes e se sentindo sozinhas, perdidas e confusas.

Ser mãe de adolescente não é fácil, afinal “filhos crescidos, trabalho dobrado”. A gente pensa que a fase dos filhos bebês é a mais trabalhosa… Ledo engano. Enquanto pequenos, nosso trabalho é amamentá-los, alimentá-los, cuidar da higiene e colocar para dormir. À medida que crescem, os problemas se tornam mais complexos e culminam na adolescência, quando o jovem entra num ciclo de transformações físicas e psíquicas. É um período conturbado para eles também, quando se despedem da inocente e despreocupada infância para começar a assumir responsabilidades e fazer escolhas de vida.

Ninho vazio

Para nós, mães, é um período que mistura ansiedade com estranhamento, angústia com sofrimento. Já não somos tão requisitadas, não nos querem nas festinhas nem nas conversas com amigos. Nossas ideias e opiniões são frequentemente consideradas ultrapassadas e eles parecem sentir prazer em nos enfrentar e testar nossos limites. Mas ainda queremos orientá-los e aconselhá-los nas escolhas profissionais e em tantas outras coisas.

De certo modo, é muito natural esse caminho, eles estão tortuosamente buscando a própria direção e identidade. Também é sofrido para eles perder a superproteção paterna e seguir para a vida de adultos, porém é necessário. E esse momento de transição é conflituoso, eles preferem compartilhar suas histórias, dúvidas e problemas com seus amigos, com quem se identificam.

Mas isso não significa que mãe de adolescente deva se distanciar. A presença dos pais é muito importante nessa fase. A relação de confiança, respeito e amor construída desde a mais tenra infância não vai desaparecer. É preciso muito jogo de cintura, puxando o freio e afrouxando vez ou outra, proibindo e fazendo vista grossa, de vez em quando, devagarinho, para que ambos, pais e filhos, aprendamos a viver um sem o outro. Não vamos romper relações, mas apenas ter uma relação menos dependente. Nós precisamos enfrentar o ninho vazio e eles precisam voar alto para fora do ninho.

Nesse processo, é fundamental respeito mútuo e muita conversa para que o seu filho voe alto, com segurança e tranquilidade, proporcionando-lhe muito orgulho nas escolhas e decisões adultas.


Texto de: Olga Birman
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